Por: Roberto Lacaze
O Pico do Baiano (2016m de altitude), localizado na Serra do Caraça, Minas Gerais, possui em sua face leste uma enorme parede de quartzito de mais de 600 metros de altura, cenário de longas vias de escalada em rocha.
Tive a oportunidade de conhecer esta montanha em julho de 1999, durante uma viagem de mais de um mês escalando por diversas regiões de Minas Gerais e Rio de Janeiro, junto com o David Henrique. Encontramos o Kaka em Belo Horizonte, que, como reza a tradicional hospitalidade mineira, nos propôs irmos escalar no Baiano. Assim, viajamos até Morro da Água Quente, um pequeno vilarejo localizado aos pés da montanha. Era noite quando chegamos lá. Esticamos nossos sacos de dormir em uma praça e fizemos um bivaque.
Acordamos cedo no dia seguinte (14/07/1999) e saímos às 7:45 rumo à montanha. Subimos por uma trilha, que nos levou, em cerca de 2 horas de caminhada, até a base da parede.
Nesta época, existiam quatro vias no Baiano: A primeira via, chamada Odisséia ao Crepúsculo, que contava com algumas repetições; e mais três vias, que provavelmente nunca tinham sido repetidas. Uma delas, chamada Megacefalomania, havia sido conquistada recentemente pelo Kaka.
A princípio, pretendíamos repetir a via dele, porém quando chegamos na parede decidimos entrar em outra via para conhecer, que tinha acabado de ser conquistada. Durante a subida vimos que várias chapeletas ainda estavam com o pó da rocha, resíduo da abertura dos furos. Escalamos a via o mais rápido que pudemos para uma cordada de três pessoas. Em 4 horas de escalada subimos os 650 metros de via e chegamos no cume. A vista lá de cima estava linda. Não havia nenhuma nuvem no céu. Assinamos o livro de cume do Baiano e descobrimos que a via se chamava Obra do Acaso e tinha sido concluída alguns dias antes, em 10/07, o que nos leva a crer que fizemos a primeira repetição da via.
Decidimos rapelar pela via Megacefalomania, que o Kaka conhecia bem e isso facilitaria nosso trabalho. A parede estava na sombra e fazia frio. Foram vários rapeis até finalmente chegarmos na base da pedra. Já estava escurecendo. Fizemos a caminhada de volta pela trilha até o vilarejo, onde chegamos por volta das 21:00. Comemos um “prato-feito” em um restaurante, cansados depois do longo dia de escalada. Conversamos com o dono do restaurante e, novamente salvos pela hospitalidade mineira, ele nos deixou dormir no chão salão. Empurramos algumas mesas, esticamos nossos sacos de dormir no chão e desmaiamos.
O tempo virou no dia seguinte (15/07). As nuvens encobriam o Pico do Baiano. Eu e o David, que até então estávamos pensando em escalar a via Megacefalomania neste dia, mudamos de idéia. Deixamos Morro da Água Quente e resolvemos aproveitar o dia de tempo ruim para conhecer Ouro Preto.
Foto: A imponente face leste do Pico do Baiano (2016m), onde localizam-se as vias de escalada.
A seguir estão duas versões de croquis da via Obra do Acaso:
Croquis da via Obra do Acaso 5º VI (A0/VIIc) E2 650m
Obs.: Clique nas imagens para ampliar.
A via Obra do Acaso é toda protegida com chapeletas. Não é necessária a utilização de equipamentos móveis, embora um cliff de buraco (talon ou similar) pode ser útil para passar os crux da terceira e da sexta enfiada.
Infelizmente, o acesso ao Pico do Baiano atualmente está proibido pela companhia de mineração que existe na base da montanha. Portanto, parece que hoje em dia o “crux” da via mesmo é conseguir chegar na base da pedra sem ser notado pelos vigilantes da mineradora. Quando estive lá, em 1999, o acesso ainda não estava proíbido e portanto não tivemos este problema.
Para mais informações sobre o Pico do Baiano e também sobre as outras vias de escalada nesta montanha, veja o site do Centro Excursionista Mineiro (CEM):
CEM – Vias de escalada no Pico do BaianoCEM – Acesso ao Pico do Baiano
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Obs.: A imagem pode ser movimentada com o mouse, se desejar mudar o ângulo ou dar zoom.
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