Gunung significa montanha em `bahasa indonesia´, a língua oficial da Indonésia. A Gunung Rinjani é a mais alta da ilha de Lombok, com 3726 metros de altitude. Ela é, na verdade, uma das montanhas que compõem a borda de uma gigantesca cratera vulcânica. Dentro desta enorme cratera existe um grande lago e, no centro, um vulcão menor, de formação mais recente, ativo. A região está protegida por um parque nacional, Taman Nasional Gunung Rinjani (Obs.: “Nacional” em `bahasa indonesia´ se escreve com “s”. Portanto: “nasional”. Parece estranho, mas é assim!), e oferece ótimas possibilidades de trekking, que dão acesso ao lago (Danau Segara Anak), às nascentes de águas termais e ao cume do Rinjani.
Passamos um dia na cidade de Mataram, junto com nossos amigos indonesianos Arta e Zizi, para organizar os detalhes necessários para a caminhada que estaríamos fazendo nos próximos dias. Um amigo do Arta havia indicado um grupo de montanhismo que poderia nos ajudar. Conversamos com eles, que se dispuseram a ir junto com nós, como “guias”. Apenas teríamos que pagar o transporte e a comida deles. Achamos uma boa idéia ter a companhia deles. Assim, não teríamos problemas em encontrar o início da trilha e também nos sentiríamos mais tranquilos, por eles serem locais, considerando que há uma pressão local para se contratar guias e também que já houveram casos de assaltos nesta caminhada. No entanto, já no primeiro dia de caminhada percebemos que a companhia deles não era importante. O caminho é muito bem marcado e bastante frenquentado. Sempre estávamos cruzando com diversos grupos de excursões guiadas e com carregadores, de forma que não havia nenhuma dúvida sobre o caminho a ser seguido. No segundo dia, nossos “pseudo-guias” (nossos companheiros do grupo de montanhismo), que vinham em um ritmo muito fraco, regado à alcool & CIA, desistiram da caminhada retornaram para Mataram. A partir daí, seguimos então somente nós (eu, a Deise, o Arta e a Zizi), sem o lastro dos falsos montanhistas. Passamos uma semana na montanha, conhecendo lugares fantásticos, quase irreais, com uma paisagem que parece de outro planeta.
DIA 1 (19/08/2010):
No início da tarde pegamos um bemo (o transporte público da indonésia: uma espécie de van) e, em seguida, uma caminhonete, rumo a pequena cidade de Sembalun Lawang (à 1150 metros de altitude), nosso ponto de partida para a caminhada. Assim, após algumas horas de viagem, por volta das 16:00 estávamos colocando os pés na trilha. Cerca de 2 horas de caminhada nos levou até o primeiro local de acampamento, chamado POS 2 (à 1500 metros de altitude). Já estava escurecendo quando chegamos. Montamos nosso acampamento e fizemos o jantar.
DIA 2 (20/08):
Desmontamos o acampamento de manhã cedo, arrumamos nossas mochilas e continuamos a caminhada. Em aproximadamente 4 horas de subida, chegamos no próximo local de acampamento, chamado Plawangan (2640m). Este é o acampamento base utilizado para subir ao cume do Rinjani. Eu e a Deise descansamos durante a tarde, nos preparando para subir a montanha no dia seguinte. O Arta e a Zizi fariam um dia de descanso, nos esperando no acampamento, e somente subiriam ao cume no outro dia.
Durante toda a caminhada sempre estávamos cruzando com várias excursões com guias e carregadores. Os carregadores indonesianos utilizam um método que a princípio parece ser um tanto desconfortável: Um pedaço de bambu, onde, em cada uma das extremidades, eles amarram a carga a ser levada.
Nosso acampamento em Plawangan (2640m). Ao fundo está a crista oeste do Rinjani, por onde se faz a subida até o cume.
DIA 3 (21/08):
Acordamos às 2:30 da madrugada, tomamos um rápido café da manhã e nos preparamos para sair. Deixamos a barraca às 3:00 e começamos a subida. Havia uma linha luminosa das lanternas de dezenas de pessoas subindo a montanha em meio a escuridão da noite. A subida do Rinjani é feita geralmente durante a noite, para chegar de manhã cedinho no cume e em seguida descer. Isso deve-se ao fato de que, quase que rotineiramente, o tempo fecha por volta das 10:00 da manhã e permanece nublado durante o resto do dia.
O início da subida é razoavelmente inclinado e escorregadio. O caminho segue zizagueando por uma rampa de pedras soltas até atingir a crista oeste da montanha. A partir daí o subida segue diretamente pela crista. Inicialmente a crista não é tão inclinada e dá para progredir bem. Porém, quando se chega no último trecho, a inclinação aumenta e as pedras soltas fazem com que a subida seja bastante escorregadia: Dois passos para frente e um para trás, e assim fomos subindo lentamente. O vento dava uma sensação térmica de bastante frio. Levamos em torno de 1 hora para vencer este último trecho e finalmente chegar no cume. Eram 6:20 da manhã e o sol estava nascendo. Fizemos a subida em 3 horas e 20 minutos, vencendo um desnível de cerca de 1100 metros.
O amanhecer visto do cume do Rinjani (3726m) foi incrível. Depois de tirar várias fotos começamos a descida. É possível descer rapidamente, praticamente esquiando pelas pedras soltas. Porém, nós tentamos descer o mais devagar que podíamos, parando inúmeras vezes para curtir o visual fantástico e tirar fotos.
O tempo já estava totalmente nublado quando chegamos de volta no acampamento. Passamos a tarde descansando e de noite fomos dormir cedo, para recuperar o sono.
Durante a subida do Rinjani, superando uma interminável rampa de pedras soltas.
O nascer do sol, visto do cume. Ao fundo pode-se ver o litoral nordeste de Lombok e a ilha Gili Sulat.
A enorme cratera e o lago Segara Anak, vistos do cume. No centro da cratera está o Gunung Baru, um pequeno vulcão ativo. Ao fundo, pode-se ver a sombra do Rinjani, projetada no horizonte.
No cume do Rinjani. Lá embaixo está o lago Segara Anak e o Gunung Baru.
Vista das montanhas que fazem a borda da grande cratera. Abaixo, entre as nuvens, está o lago Segara Anak. E ao fundo, no litoral noroeste de Lombok, estão as três famosas ilhas “Gilis”: Gili Air, Gili Meno e Gili Trawangan.
Visual durante a descida, olhando para o norte. Ao fundo está o mar.
Vista para o nordeste de Lombok. Onde está o reflexo do sol no mar, pode-se ver duas pequenas ilhas, chamadas Gili Lawang (à esquerda) e Gili Sulat (à direita).
A enorme cratera, com o lago Segara Anak e o vulcão Baru no centro.
O Gunung Baru (2363m) é um vulcão ativo. Ocorreu uma explosão no início deste ano (2010), que abriu esta cratera lateral, que pode ser vista no lado direito da foto, onde está saindo fumaça.
O Gunung Rinjani (3726m). A subida ao cume é feita por esta crista que se vê no lado esquerdo da foto. Esta foto foi tirada durante a descida da montanha.
DIA 4 (22/08):
Foi a vez do Arta e a Zizi subirem a montanha. E enquanto isso, nós aproveitamos para dormir até tarde. Pelo meio da manhã eles retornaram do cume. Almoçamos e eles descansaram um pouco. E então, no início da tarde, desmontamos o acampamento para caminhar até nosso próximo destino. Em cerca de 2 horas de descida chegamos no Danau Segara Anak, um lago que está dentro da enorme cratera vulcânica. Acampamos na beira do lago, que está à 2000 metros de altitude.
DIA 5 (23/08):
Passamos o dia por perto do acampamento, curtindo o visual e tirando fotos. Fomos passear nas fontes de águas termais que estão à uns 10 minutos de caminhada. As fontes estão na nascente de um rio, com várias piscinas naturais e cachoeiras. Uma das cachoeiras é perfeita para banho. A água desce quente pela cachoeira, ao mesmo tempo que brota também água quente pelo fundo da piscina que está logo em frente.
O lago Segara Anak está à 2000 metros de altitude. À esquerda, no fundo, está o Gunung Rinjani (3726m) e, à direita, pode-se ver o Gunung Baru (2363m).
Nosso acampamento. Da esquerda para a direita: Zizi, Arta, Deise e eu. Logo atrás está o lago, escondido no meio da neblina.
Meninos pescando no lago. É comum as pessoas que moram nos vilarejos ao redor da montanha subirem até o lago para passar alguns dias pescando.
Um bando de macacos vive ao redor da área de acampamento. Eles estão sempre atentos a qualquer oportunidade para roubar alguma comida. E quando os grupos de excursões deixam o local, eles fazem a festa, comendo os restos de comida e lixo abandonado.
Este é o chefe o bando, querendo mostrar serviço e tentando proteger os outros. Ele ficou bravo quando eu me aproximei demais.
A água desce quente pela cachoeira, ao mesmo tempo que brota na piscina logo abaixo.
DIA 6 (24/08):
Uma das excursões guiadas que passou pela área do acampamento nos deixou bastante comida de presente. Com isso pudemos ficar mais um dia, aproveitando este belo lugar. Novamente fomos para as fontes de águas termais e passamos o dia por perto do acampamento.
DIA 7 (25/08):
Tivemos que partir, pois a comida já estava acabando. Desmontamos o acampamento de manhã cedo e iniciamos um longo dia de caminhada. Subimos pela encosta até a borda da cratera (Crater Rim), onde chegamos em cerca de 3 horas de caminhada. Tivemos lindas vistas do lago e das montanhas neste trecho. Após comer um breve lanche, começamos então a descer pela face norte. Foi uma longa descida da borda da cratera (2640m) até a pequena cidade de Senaru (600m). Mais de 2000 metros de desnível em 4 horas de caminhada. Assim, depois de um total de 7 horas de caminhada chegamos finalmente em nosso destino final. Era final de tarde. Jantamos em um restaurante e o dono nos deixou dormir de graça, ao lado do restaurante, dentro da sala do escritório de sua agência de turismo.
No dia seguinte (26/08) acordamos cedo e deixamos Senaru, rumo a ilha Gili Air, no litoral noroeste de Lombok.
De manhã cedo, em Senaru, tivemos ótimas vistas das montanhas por onde caminhamos nos últimos dias:
Exibir mapa ampliado
O Gunung Rinjani e a enorme cratera vulcânica, onde está o lago Segara Anak.
DICAS:
- Esta caminhada pode ser feita tranquilamente de forma autônoma, sem guias e carregadores, por qualquer pessoa que já tenha alguma experiência mínima de trekking. No entanto, é bastante difícil conseguir as informações básicas necessárias, pois existe uma forte pressão local para que se contrate os serviços de guias e carregadores. Mas, ao meu ver vale a pena, pois caminhar de forma independente é muito mais prazeroso e gratificante.
- A travessia pode ser feita igualmente em ambos os sentidos, de Sembalun Lawang para Senaru (como nós fizemos) ou de Senaru para Sembalun Lawang.
- A taxa de entrada do parque nacional onde está o Rinjani custa 20.000 rupiah (2,25 dólares) para estrangeiros e 2.500 rupiah (0,30 dólar) para indonesianos.
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