Já levamos mais de um ano viajando pela Asia. E agora, de volta na India, nos vem a sensação de que um ciclo começa a se fechar. Vindos de Bangkok (na Tailândia), aterrissamos na tumultuada Delhi e viemos novamente para Rishikesh, onde já havíamos estado na outra vez que viajamos pela India. Rishikesh está localizada nas margens do Ganga (o sagrado Rio Ganges), nos contrafortes do Himalaia, e é conhecida como “capital mundial do yoga”. É um lugar interessante para passar algum tempo e descansar. E este tempo nos permite também pensar um pouco na jornada que realizamos neste último ano, passando por tantos lugares e experiências diferentes. A Asia é um mundo. Nesta viagem exploramos somente um pouco deste imenso mundo. Porém, mais do que isso, dentro de nós também há um mundo. E deste imenso mundo interior também pudemos explorar um pouco. De fato, trata-se de uma grande jornada.
Podendo estar novamente aqui em Rishikesh, percebemos algumas mudanças internas. E, consequentemente, parece que o lugar está mais bonito. Agora conseguimos apreciar mais o que estamos vendo. Conseguimos nos focar com mais atenção nas experiências que as coisas ao nosso redor nos trazem, sem sermos tão abalados por aspectos que a princípio nos pareciam mais agressivos. De início, a India foi como um tapa na cara. Quando estivemos aqui um ano atrás, perambulamos pela India de norte à sul por quase cinco meses, em uma mistura de susto com encantamento. Mas a India é assim. Para quem chega de fora, é necessário um tempo para começar a entender. Ou, caso não consiga entender, que simplesmente possa aceitar ela como ela é. É um constante exercício de observação, não somente das coisas exteriores, mas principalmente das reações interiores que elas nos causam. É um lugar cheio de contrastes: A riqueza e a pobreza. O espiritual e o material. O alegre e o triste. O bonito e o feio. O bom e o ruim. E assim por diante, tudo isso convivendo lado a lado. Mas, depois de muita observação, percebe-se que todas estas dualidades dependem da maneira como se quer enxergar. Por exemplo, aquilo que à princípio parece ruim, pode se tornar bom, bastando para isso invertermos a perspectiva. Pois na verdade, tudo é um. A separação é uma ilusão. E esta é a grande lição que este lugar ajuda a nos mostrar.
Depois de um ano desde nossa primeira passagem por aqui, agora estamos apreciando ainda mais este lugar. Acredito que agora podemos entendê-lo melhor e aceitá-lo como é. À primeira vista, a India pode ser caótica e até mesmo agressiva. Agora, porém, percebemos que o barulho das buzinas, o trânsito louco, a sujeira, a maneira de ser de algumas pessoas, etc, já não nos provocam mais tanta turbulência interna. Todos estes agentes exteriores são os professores desta grande escola. Eles estão constantemente nos ensinando e também nos testando.
Outro grande obstáculo que observamos neste ano de viagem é conseguir manter o foco no presente. Isto é um exercício bastante difícil. Frequentemente, nossa mente se perde, voltando-se ao passado ou ao futuro. Especificamente no nosso caso, em que estamos sempre viajando, mudando de espaço a cada momento e sem uma rotina definida, é comum nos focar mais no futuro. O amanhã incerto de nossa vida nômade tenta constantemente desviar nossa mente, nos trazendo perguntas tais como: Qual é a próxima cidade? Como vamos ir para lá? Onde vamos dormir? E depois, para qual país nós vamos? E depois de todas estas viagens, onde vamos morar? E o que vamos fazer? Assim, em alguns momentos da viagem, encontramos nossas mentes distantes de nossos corpos, voltadas para a Europa ou para o Brasil. E com isso, pudemos perceber que muitas vezes estávamos deixando de aproveitar totalmente o lugar e o momento onde estávamos. Esta experiência de estar viajando por um longo tempo nos proporcionou o constante exercício de tentar manter o foco no presente. E acredito que aprendemos algo neste sentido. Agora estamos mais treinados. Ou, no mínimo, estamos mais atentos, para trazer a consciência de volta ao presente quando ela tenta se desviar.
Depois de todo este tempo viajando por tantos lugares diferentes, percebemos claramente que a verdadeira grande jornada é interior. Está dentro de nós mesmos. E para avançar nesta jornada, não é necessário ir para a India, viajar pelo mundo, escalar montanhas, cruzar oceanos, etc. Existem infinitos caminhos. Mas simplesmente basta estarmos atentos e presentes em nós mesmos. Estar presente é estar atento aos sentimentos e pensamentos que possam estar agitando nosso lago interior. Nossos sentimentos e pensamentos são produtos da nossa mente compulsiva. Mas a verdadeira felicidade está dentro de nós mesmos. Os agentes externos não são os responsáveis. Tudo depende da perspectiva com que se exerga. E assim, aos poucos as águas internas vão se aquietando e tornando mais translúcidas. Viajamos por tantos lugares e agora percebemos cada vez mais que o que buscamos está realmente dentro de nós. Ao mesmo tempo tão perto e tão distante. Assim, passo a passo, caminhamos mais um pouco nesta grande jornada.
Que bonito Roberto! Compartilho do mesmo sentimento depois de seis meses viajando. Estar em Colômbia foi uma experiência de amor e ódio. Mas, hoje tento ver aquilo que tanto me incomoda como parte de sua cultura e não posso (e nem quero) mudá-lo. Por isso, sigo minha viagem transmutando esse sentimento de incomodo por aceitação!
ResponderExcluirSigam em paz,
Inspirador...
ResponderExcluirtudo é sempre um relembrar . saudades de voces
ResponderExcluirNossa fiquei horas vendo seu blog!!!! e estou impressionada com tantas viagens e tanta cultura adiquirida, e vejo como somos pequenos diante da grandeza desse mundo! gostaria muito da saber só por curiosidade mesmo! como vcs sobrevivem como nômades, como suprem as necessidades da vida? como fazem pra comer, se vestir e morar? quero muito viajar e conhecer a Índia mas disponho de pouco tempo (uns 15 dias só) vc tem alguma dica pra me dar? e desde já o meu muito obrigada! por através deste blog poder conhecer um pouquinho do mundo!!!! abraços (pati.alves.ribeiro@hotmail.com)
ResponderExcluirOlá Kakau,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário deixado!
Então, respondendo tuas perguntas:
A vida de mochileiro é com o mínimo necessário, gastando o mínimo e carregando o mínimo. Mas é somente uma etapa. Antes de viajar trabalhamos bastante para juntar dinheiro e, logo mais, teremos que parar novamente para trabalhar. Por exemplo, é melhor trabalhar em países de “primeiro mundo”, onde se ganha mais, e viajar pela Asia, onde tudo é barato.
Só quinze dias na India é pouco. Mas se vc não tem outra opção, é melhor do que nada. Porém, sugerimos vc tentar ficar mais tempo. Pois chegar aqui é caro, mas uma vez que vc já está aqui, tudo é muito barato e poderá viajar por um longo tempo.
Além disso, acreditamos que é necessário um tempo para começar a realmente entender e aproveitar a India, pois no início é um grande choque. Muita gente não gosta da India, mas também muita gente adora.
É isso aí, boa sorte!
Abraços,
Beto e Deise
oi roberto e deise! descobri a casinha internética de vcs, fazendo uma pesquisa pro meu blogue acerca de cremação em Pashupatinath...engraçado, né? estive recentemente no nepal, em novembro de 2010, onde tentei alcançar o cume do mera peak. e volto pra ásia ainda este ano. quem sabe não nos encontramos por aí, né? ah, tb moro em poa. grande abraço, bea
ResponderExcluirParabéns pela partilha destas magnificas viagens!
ResponderExcluirAndei a "passear" por aqui e por certo vou voltar. Gostei muito!
Se quiserem "passear" comigo... espero-vos aqui
http://www.voltaindia.blogspot.com/
Cordiais saudações